terça-feira, 29 de março de 2011

Pontes


Pontes são atalhos suspensos,
são caminhos sem destino,
passagens sem tempo,
por onde os sonhos fogem.
São barreiras incompletas,
barragens que se descobrem.

Pontes são abraços das margens,
os braços abertos do rio,
tentando enlaçar os lados,
onde se esconde a razão.
São carreiros sem retorno,
com vias em contra mão.

Pontes são instantes que colhemos,
entre as voltas da tormenta,
nos turbilhões da borrasca,
sobre as águas furiosas.
São troncos dependurados,
nas brisas silenciosas.

Pontes são linhas de um poema,
que entre partidas e retornos,
levam os meus pensamentos,
entre o vai e vem dos sonhos.


Texto: Victor Gil
Fotografia: Pedro Gil

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Noite de Bruxas




Pisava pedras soltas, que brotavam,
a cada passo meu, na caminhada.
As mãos vazias, nadas que sangravam,
grotescos ritos nus na madrugada.

Bailavam vultos, clarões bruxuleantes,
rompem na noite as chamas da fogueira.
Os gritos, os uivos, gemidos dos amantes,
amando como se a vez fosse a primeira.

Voam morcegos sobre as árvores assombradas,
dançam à Lua, mariposas feiticeiras.
Andam as bruxas nos cruzeiros das estradas,
esvoaçam medos nos ramos das azinheiras.

Entre as silvas do caminho, saltam os sapos,
ouvem-se os mochos e as corujas a piar.
Grilam os grilos, ralam ralos, miam gatos,
uivam os cães e os lobos ao luar.

Noite das bruxas, meretrizes agoirentas,
ventres despidos, soltam brados na calada.
Rodando o corpo, em sinuosas danças lentas,
burlescos cultos nus na madrugada.


Texto: Victor Gil
Fotografia: Pedro Gil 

sexta-feira, 26 de março de 2010

Quantas Palavras


Quantas palavras preciso
para dizer tudo o que penso.
Quantas estrelas se dissolvem,
quantos rios esgotam águas,
quantas frases vacilantes
nos olhos que choram mágoas.

Quem tombará nos abismos
das ruas que agora piso.
Quem ficará preso às pedras,
quantos chegarão ao fundo,
quantos são amordaçados
nas nações livres do mundo.

Quantas quilhas vão romper
as águas fundas dos mares.
Quantos barcos vão ao fundo,
quantos sofrem abordagens.
quantos encalham na areia
dos baixios destas margens.

Quando irão romper no chão
somente roseiras bravas.
Quantos botões vão abrir,
quantas rosas são cortadas,
quantos braços vão crescer
com as folhas mutiladas.

Porque só nos aparecem
os deuses do apocalipse.
Quantos cultos professamos,
qual tem a voz da razão,
porque no eco dos templos
se apela à destruição.

Quantos homens vão morrer
até ser justa a verdade.
Quantos sonhos toleramos,
quantas mentiras nos ditam,
quantos perdem o sorriso
nas mãos de quem acreditam.

Qual o caminho a seguir
neste turbilhão andante.
Qual é a pátria da gente,
quais as lutas verdadeiras,
quantos mais irão tombar
nas batalhas derradeiras.

Nas cartas universais,
quem vai marcar as fronteiras?

Texto: Victor Gil
Fotografia: Pedro Gil

sábado, 13 de fevereiro de 2010

A Saudade

 


Onde quer que viva a saudade,
vou levar-te no meu peito,
violar as janelas indiscretas que me espiam,
urdir uma teia de cortinas,
quebrar os vidros,
voar sobre os telhados.

Sem ter os teus seios,
os teus braços,
sem que o teu corpo me acoite.
Mas por fim regresso sempre aqui,
seduzido pelas luzes da noite,
sentindo a vertigem dos gritos da cidade.

Enquanto os meus olhos voam,
para lá,
para onde mora a saudade.


Texto: Victor Gil 
Fotografia: Pedro Gil

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Apenas um Soneto



Corre-me um rio no coração encravado,
torrente aonde empurro a minha vida,
o vento forte de uma terra prometida,
as velas soltas do meu barco fundeado.

Sou somente a luz acesa, um sol ausente,
a voz do mar nas rochas e nas marés,
quando as ondas vêm bater nos meus pés,
e nos braços se enrola a areia quente.

Mas se as rochas despedaçarem o meu canto,
ou o sal se confundir com o meu pranto,
para depois a corrente me arrastar.

Ficam na praia apenas as mãos acenando,
as silhuetas das sombras vagueando,
enquanto a noite pede à Lua para voltar.



Texto: Victor Gil
Fotografia: Pedro Gil



quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Quero dizer-te...

Este poema é uma pequena homenagem, para a minha amiga. É também o meu primeiro poema, por isso, peço desde já a maior compreensão de todos os apreciadores de poesia que frequentam este blog, pois sei que não está a altura dos que são escritos pelo meu pai. Bem-Hajam.

Contigo aprendi como é lutar,
como enfrentar cada dia.
Sem muitos sonhos para sonhar,
tu falavas, eu ouvia.

Desmedida sorte poder-te ter,
pois distante, tu me seguias.
Muitas as cartas por escrever,
Eu falava, tu ouvias.

Já não falo, como te falava,
porque não me ouves como ouvias.
Desde a mão de terra que levava,
nossa amizade e alegrias.

Já não te ouço, como ouvia
porque não falas como me falavas.
Quero agora viver cada dia,
lembrando o amor que só tu me davas.

Beijinho
S.M. 24-08-1982/23-12-2008
Poema: Pedro Gil

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Os Fantasmas da Noite




Quando a tarde se abate,
erguem-se tingidas de vermelho,
as silhuetas das casas.
Os galhos secos das árvores,
são os fantasmas da noite.

Quantas mulheres estão chorando
enquanto a luz se esvai
e o dia se esconde vigilante
nos braços sombrios da serra distante.

Quantas crianças se inundam de lágrimas
com as barrigas vazias,
as mãos retalhadas,
com a vontade silenciosa de ter paz
nos olhos e nas palavras.

Quantos homens descalços
sufocam nos gritos de uma canção,
enquanto se destroem os muros
no dilúvio irreverente da razão.


Texto: Victor Gil
Fotografia: Pedro Gil

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Nuvem de Coragem


Nuvem que corres ao vento,
tens que fazer-me um favor.
Leva o meu pensamento,
leva o meu beijo de amor.

Arrasta a minha loucura,
meu grito de solidão.
Leva na tua brancura,
meu sangue e meu coração.

Arranca-me do peito a mágoa,
deixa-a naquela janela.
Leva-a nas gotas da água,
deixa-a cair sobre ela.

E se ela não recordar,
quem lhe enviou a mensagem.
O que importa é encontrar,

o caminho da coragem.


Texto: Victor Gil
Fotografia: Pedro Gil

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Voa Folha


Voa folha, voa ao vento,
lágrima solta no chão.
Leva a nudez deste tempo,
afasta a minha ilusão.

Leva o silêncio das velas
e os barcos devagarinho.
Vem bater-me nas janelas,
quem voa assim de mansinho.

Voa folha, afaga os olhos,
que tenho à minha espera.
Leva-me contigo nos sonhos
pelos caminhos da terra.

Vem trazer-me o seu abraço,
no delírio dos desejos.
Quero ter o seu regaço,
quero sentir os seus beijos.

Voa folha, vai depressa,
que o tempo passa a correr.
Vai ter com ela e regressa,
que o tempo pode morrer.

Vai deslizando no ar,

pode o vento não querer.
Que o sonho pode acabar,
que o sonho pode morrer.


Texto: Victor Gil
Fotografia: Pedro Gil

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Outono


Choram as folhas devagar,
com os olhos postos na distância,
arrastadas pelo vento.
Tombam nos lagos talhados nos jardins,
como o sémen do Outono,
deitado à terra sem tempo.

O vento sopra passivamente,
acanhado pelo Verão que expirou.
Carregando nos ramos agrestes,
as folhas que se soltam
dos troncos silvestres.

A chuva molha os olhos da noite.
Encharca as minhas margens,
transborda dos rios
que alaga os meus leitos.
E desenha turbilhões
em meus sonhos desfeitos.

Mas não sei se quero este Outono.
Preferir a Primavera florida,
ou então o frio do Inverno,
para acalmar o meus dias.

Vou começar a olhar os lagos,
onde as aves procuram as folhas submersas,
entre as águas mais frias
.


Texto: Victor Gil
Fotografia: Pedro Gil