quarta-feira, 23 de setembro de 2009

A Pasteleira


Junto ao velho muro gasto pelo tempo,
jaz a velha ”pasteleira”.
As gastas pedaladas,
os raios incertos,
os furos que teve,
são riscos dos tempos.

Andou na borga com a vida,
andou na vida com homens,
andou na vida com mulheres.
Foi companheira de copos,
de beijos, gozos, prazeres.

Andou por caminhos de terra batida,
ruas, ladeiras, atalhos.
Carregou couves das hortas,
guardou rebanhos de gado,
andou na pesca, na caça,
fez do pedal o seu fado.

Já correu montes e vales,
foi soberana das estradas.
Com ferrugem na corrente,
junto ao muro gasto da casa,
repousa agora indiferente.



Texto: Victor Gil
Fotografia: Pedro Gil

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Tu és Aquela



Tu és aquela que em mim trago inventada,
em rasgos de paixão no peito aberto,
que à noite vem trazer-me o sono incerto,
que vem acordar-me a madrugada.

Tu és aquela que em mim arde o desejo,
o pólen que fecunda a flor do pinho,
os ramos onde vou fazer meu ninho,
os lábios com que como, mordo e beijo.

Tu és aquela que está comigo em palavras,
nas rimas nuas que no silêncio calavas,
entre as noites de boémia e poesia.

Tu és a rocha entre as pedras dos caminhos,
a ponte ausente sobre o rio que cruzámos,
a quadra solta que mais ninguém entendia.



Texto: Victor Gil

Fotografia: Pedro Gil