sexta-feira, 19 de junho de 2009

Raios de Vida


Inquieta-me este repouso,
estes raios de vida ignorados no tempo,
este lugar que desanima sem enredo,
como um punhal espetado no vento.

Quantas vezes estas rodas se embriagaram de lama
na lenta pressa dos caminhos.
Quantos segredos guardaram
nas estranhas armadilhas que as pedras estendiam.

Sou suspeito porque tenho um coração iludido e doce,
porque procuro sempre além dos desejos.
Sou presa fácil na poeira dos carreiros,
um mendigo da memória.

Sou vendaval de cascos ferindo as ladeiras,
temporal de palavras sem história.


Texto: Victor Gil
Fotografia: Pedro Gil

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Sombras


Entre os galhos quietos,
apenas consigo lembrar-me
das sombras onde espalhámos os dias.

A gasta nora perdeu o sentido da sua rotação.
Deixou de se sentir o ruído da água a correr,
dos brados do homem,
dos clamores da terra,
dos passos do burrico ao bater os cascos pelo chão.

É como a árvore abandonada
entre as mãos do tempo,
uma lágrima solta no vento.



Texto: Victor Gil
Fotografia: Pedro Gil