quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Outono


Choram as folhas devagar,
com os olhos postos na distância,
arrastadas pelo vento.
Tombam nos lagos talhados nos jardins,
como o sémen do Outono,
deitado à terra sem tempo.

O vento sopra passivamente,
acanhado pelo Verão que expirou.
Carregando nos ramos agrestes,
as folhas que se soltam
dos troncos silvestres.

A chuva molha os olhos da noite.
Encharca as minhas margens,
transborda dos rios
que alaga os meus leitos.
E desenha turbilhões
em meus sonhos desfeitos.

Mas não sei se quero este Outono.
Preferir a Primavera florida,
ou então o frio do Inverno,
para acalmar o meus dias.

Vou começar a olhar os lagos,
onde as aves procuram as folhas submersas,
entre as águas mais frias
.


Texto: Victor Gil
Fotografia: Pedro Gil

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Incerteza


Encosto ao vidro os meus olhos encharcados,
debruçado entre as pedras da calçada.
Olhando o chão, pouso os meus braços cansados,
sem saber se tem regresso aquela estrada.

Senti no peito invadir-me a nostalgia,
arrastei amargurado, o meu caminho.
Sem saber se era um sonho que eu vivia,
se um punhal rasgar a pele devagarinho.

Mas aqui dentro de mim, embora ausente,
ficou o nosso abraço, o peito quente,
o adeus de um coração que sangra e chora.

Nas minhas mãos, agitadas e desertas,
eu sinto as tuas, torturadas e inquietas,
porque é em ti que a minha saudade mora.



Texto: Victor Gil
Fotografia: Pedro Gil