sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Sem Tempo


O dia entardece entre os varais abandonados,
entre as sombras sem tempo que a tarde consome,
entre as ruas desertas,
as lajes incertas,
e os velhos passos nos caminhos sem nome.

Mas de vez em quando gosto de parar e ouvir o tempo.
Sou um vagabundo das minhas raízes,
do pó das queimadas,
do desvario dos ribeiros,
da aragem do vento que sopra de norte.

Das aldeias mansas de casas caladas,
à espera que o tempo traga outra sorte.



Texto: Victor Gil
Fotografia: Pedro Gil

Escura Densidade


É na brandura do Outono,
que o arvoredo solta as folhas amordaçadas.
Pousam mansamente ignoradas pela ventania,
enquanto eu procuro um tronco nu,
onde possa esmagar a flor da nostalgia.

Pousam entre o musgo e os galhos dispersos,
perseguidas pelo rasto dos répteis.
Deslizam suavemente como lágrimas,
na escura densidade das sombras confusas,
onde o sol amorna as ervas bravas,
entre os rêgos abertos pelas chuvas.



Texto: Victor Gil
Fotografia: Pedro Gil

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

A Solidão


Não me quebrem o silêncio,
nem o ruído destas folhas.
O silêncio é o rito inventado dos que se isolam,
o percurso invariável dos abismos,
o espaço que tu habitas e eu sonho,
que percorro nos limites proíbidos.

Não me apaguem as lajes da solidão,
a almofada de pedra onde me dobro.
As vozes são vagas e as sombras misteriosas,
as madrugadas calmas e as tardes inquietas,
mas os amantes espreitam escondidos,
entre as feridas das paixões secretas.



Texto: Victor Gil
Fotografia: Pedro Gil

O Recanto


Um dia vou devolver a cidade.
Quero voltar às noites frescas de mantos brancos,
às veredas onde tenho o coração,
às pedras bordadas com a caruma dos pinheiros,
às quelhas que ocultam as marcas do meu chão.

Um dia vou voltar ao aroma intenso da lareira,
aos trilhos do passado,
aos dias que entardecem em luz suave,
ao cheiro da terra fresca,
aos recantos perfumados da saudade.

Texto: Victor Gil
Fotografia: Pedro Gil

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Pintura


Por vezes faltam-me as palavras
para pintar a tela dos poetas.
Ensaio riscos nas folhas indecisas,
rasgando frases ausentes,
nos versos de quadras soltas.

Sou um vendaval da saudade,
madrugada e nevoeiro que a noite envolve.
Sou um galho desfolhado,
uma pernada de Outono,
uma gota de água quando chove.

Texto: Victor Gil
Fotografia: Pedro Gil

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

O Guardião


Guardião dos carreiros sem retorno,
das cavernas misteriosas e quietas,
da terra dolorosa,
dos troncos das sombras eternas,
onde os olhos são de orvalho,
quando o vento acaricia as frias pedras.

Porque as lajes do além não se podem rasgar,
só nos resta inventar ilhas de flores,
ou bosques de ciprestes,
entre os muros que o tempo há-de iludir.
Empunhar as bandeiras do silêncio,
nos gestos que as mãos fazem ao partir.
Texto: Victor Gil
Fotografia: Pedro Gil

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Raízes


Planto todas as manhãs as minhas raízes.
Mas detrás destas árvores
não vejo o tempo onde se formam.
Há sempre sombras,
atalhos que escurecem,
veredas que eu percorro,
arrastando os pés,
nas folhas mutiladas que envelhecem
.
Texto: Victor Gil
Fotografia: Pedro Gil

sábado, 18 de agosto de 2007

A Luta


Porque ainda suportas o punho do chicote,
porque ainda sofres os direitos maltratados
e a míngua se entranha em ti.
Porque nos teus olhos de afecto,
apenas trazes mágoa e sofrimento.

Porque trazes no sexo violentado,
os filhos forçados.
Porque no silêncio das casas outras sombras te profanam,
e entre o teu frágil regaço,
apodrecem os ossos dos que tombaram.

É para ti que empunho a flor da luta.
Para sacudir a Terra,
porque as crianças trazem nas mãos,
os punhais da guerra.

Texto: Victor Gil
Fotografia: Pedro Gil

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

O Sonho


Todos os meus sonhos se esvaíram
através das portas escancaradas
que eu insisti em abrir.
Desvaneceram-se nos degraus da manhã,
nas janelas inteiras
que perturbam os olhos das ruas.
Texto: Victor Gil
Fotografia: Pedro Gil

O Caminho


Continuo a procurar-te nos emaranhados troncos,
onde se cruzam os nossos caminhos.
A invadir-te nos atalhos
que suportam no chão
todas as sombras.
Mas um dia este caminho
vai transformar-se num rio,
apagando as marcas de pó,
que vão alagando as nossas margens.

Texto: Victor Gil
Fotografia: Pedro Gil

sábado, 4 de agosto de 2007

Preto e Branco


Preto e branco,
é penumbra e nevoeiro,
é Estrela Polar, é Lua branca,
é o negro das terras queimadas,
muros pintados com sombras trocadas,

Preto e branco,
é livro aberto, folha rasgada,
é grito no silêncio das fronteiras,
é misturar nos livros a côr das raças.

Porque só a poeira dos homens,
não se mistura nas folhas baças.


Texto: Victor Gil
Fotografia: Pedro Gil

Imensidão de Esperança e Mar


Nesta imensidão de esperança e mar,
quantos barcos sem quilha
conseguem rasgar as ondas.
Quantos se afundam nas águas profundas.

Quantos encalham no baixio das margens,
quantos olhos na solidão da praia,
choram aos deuses
e os Deuses se esquecem das calmas aragens.

Se as margens são de silêncio,
as rotas inquietas,
os olhos de sal.
Porquê andar por mares já antes navegados,
se a esperança é uma caravela de papel.

Texto: Victor Gil
Fotografia: Pedro Gil



quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Diferente...


Sei que é algo bastante diferente do blog que tinha (“Blog de Cáca”), mas espero que gostem. Aqui vou divulgar as minhas fotos e não só…Sim, porque eu aqui vou também iniciar uma parceria. Mais não vou divulgar, têm de cá vir para ver. Vou aceitar todos os comentários, sejam eles positivos ou não, embora vos peça uma coisa, sempre que fizerem um comentário gostaria que fosse anónimo…Também para ser algo diferente e aí poderão realmente exprimir a vossa opinião. Deixo aqui já uma foto ainda sem parceria, mas as próximas prometo que já serão com o trabalho da parceria. Escolhi esta foto pois estou a começar algo diferente, que é exactamente o título desta foto. Desde já um grande Bem-Hajam pela vossa visita, espero que gostem.