quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Quero dizer-te...

Este poema é uma pequena homenagem, para a minha amiga. É também o meu primeiro poema, por isso, peço desde já a maior compreensão de todos os apreciadores de poesia que frequentam este blog, pois sei que não está a altura dos que são escritos pelo meu pai. Bem-Hajam.

Contigo aprendi como é lutar,
como enfrentar cada dia.
Sem muitos sonhos para sonhar,
tu falavas, eu ouvia.

Desmedida sorte poder-te ter,
pois distante, tu me seguias.
Muitas as cartas por escrever,
Eu falava, tu ouvias.

Já não falo, como te falava,
porque não me ouves como ouvias.
Desde a mão de terra que levava,
nossa amizade e alegrias.

Já não te ouço, como ouvia
porque não falas como me falavas.
Quero agora viver cada dia,
lembrando o amor que só tu me davas.

Beijinho
S.M. 24-08-1982/23-12-2008
Poema: Pedro Gil

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Os Fantasmas da Noite




Quando a tarde se abate,
erguem-se tingidas de vermelho,
as silhuetas das casas.
Os galhos secos das árvores,
são os fantasmas da noite.

Quantas mulheres estão chorando
enquanto a luz se esvai
e o dia se esconde vigilante
nos braços sombrios da serra distante.

Quantas crianças se inundam de lágrimas
com as barrigas vazias,
as mãos retalhadas,
com a vontade silenciosa de ter paz
nos olhos e nas palavras.

Quantos homens descalços
sufocam nos gritos de uma canção,
enquanto se destroem os muros
no dilúvio irreverente da razão.


Texto: Victor Gil
Fotografia: Pedro Gil

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Nuvem de Coragem


Nuvem que corres ao vento,
tens que fazer-me um favor.
Leva o meu pensamento,
leva o meu beijo de amor.

Arrasta a minha loucura,
meu grito de solidão.
Leva na tua brancura,
meu sangue e meu coração.

Arranca-me do peito a mágoa,
deixa-a naquela janela.
Leva-a nas gotas da água,
deixa-a cair sobre ela.

E se ela não recordar,
quem lhe enviou a mensagem.
O que importa é encontrar,

o caminho da coragem.


Texto: Victor Gil
Fotografia: Pedro Gil

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Voa Folha


Voa folha, voa ao vento,
lágrima solta no chão.
Leva a nudez deste tempo,
afasta a minha ilusão.

Leva o silêncio das velas
e os barcos devagarinho.
Vem bater-me nas janelas,
quem voa assim de mansinho.

Voa folha, afaga os olhos,
que tenho à minha espera.
Leva-me contigo nos sonhos
pelos caminhos da terra.

Vem trazer-me o seu abraço,
no delírio dos desejos.
Quero ter o seu regaço,
quero sentir os seus beijos.

Voa folha, vai depressa,
que o tempo passa a correr.
Vai ter com ela e regressa,
que o tempo pode morrer.

Vai deslizando no ar,

pode o vento não querer.
Que o sonho pode acabar,
que o sonho pode morrer.


Texto: Victor Gil
Fotografia: Pedro Gil

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Outono


Choram as folhas devagar,
com os olhos postos na distância,
arrastadas pelo vento.
Tombam nos lagos talhados nos jardins,
como o sémen do Outono,
deitado à terra sem tempo.

O vento sopra passivamente,
acanhado pelo Verão que expirou.
Carregando nos ramos agrestes,
as folhas que se soltam
dos troncos silvestres.

A chuva molha os olhos da noite.
Encharca as minhas margens,
transborda dos rios
que alaga os meus leitos.
E desenha turbilhões
em meus sonhos desfeitos.

Mas não sei se quero este Outono.
Preferir a Primavera florida,
ou então o frio do Inverno,
para acalmar o meus dias.

Vou começar a olhar os lagos,
onde as aves procuram as folhas submersas,
entre as águas mais frias
.


Texto: Victor Gil
Fotografia: Pedro Gil

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Incerteza


Encosto ao vidro os meus olhos encharcados,
debruçado entre as pedras da calçada.
Olhando o chão, pouso os meus braços cansados,
sem saber se tem regresso aquela estrada.

Senti no peito invadir-me a nostalgia,
arrastei amargurado, o meu caminho.
Sem saber se era um sonho que eu vivia,
se um punhal rasgar a pele devagarinho.

Mas aqui dentro de mim, embora ausente,
ficou o nosso abraço, o peito quente,
o adeus de um coração que sangra e chora.

Nas minhas mãos, agitadas e desertas,
eu sinto as tuas, torturadas e inquietas,
porque é em ti que a minha saudade mora.



Texto: Victor Gil
Fotografia: Pedro Gil


quarta-feira, 23 de setembro de 2009

A Pasteleira


Junto ao velho muro gasto pelo tempo,
jaz a velha ”pasteleira”.
As gastas pedaladas,
os raios incertos,
os furos que teve,
são riscos dos tempos.

Andou na borga com a vida,
andou na vida com homens,
andou na vida com mulheres.
Foi companheira de copos,
de beijos, gozos, prazeres.

Andou por caminhos de terra batida,
ruas, ladeiras, atalhos.
Carregou couves das hortas,
guardou rebanhos de gado,
andou na pesca, na caça,
fez do pedal o seu fado.

Já correu montes e vales,
foi soberana das estradas.
Com ferrugem na corrente,
junto ao muro gasto da casa,
repousa agora indiferente.



Texto: Victor Gil
Fotografia: Pedro Gil

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Tu és Aquela



Tu és aquela que em mim trago inventada,
em rasgos de paixão no peito aberto,
que à noite vem trazer-me o sono incerto,
que vem acordar-me a madrugada.

Tu és aquela que em mim arde o desejo,
o pólen que fecunda a flor do pinho,
os ramos onde vou fazer meu ninho,
os lábios com que como, mordo e beijo.

Tu és aquela que está comigo em palavras,
nas rimas nuas que no silêncio calavas,
entre as noites de boémia e poesia.

Tu és a rocha entre as pedras dos caminhos,
a ponte ausente sobre o rio que cruzámos,
a quadra solta que mais ninguém entendia.



Texto: Victor Gil

Fotografia: Pedro Gil

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Hoje senti a falta dos teus versos


Hoje senti a falta dos teus versos,
de corrigir as palavras que eram tuas,
de transformar os teus amores.
Hoje senti a falta
do azul das tuas flores.

Senti que me faltavam as rimas,
que me faltavam as sílabas tónicas,
que as vírgulas se retiravam do papel,
para se encontrarem nas entrelinhas
com os pontos de final.

As exclamações ficaram no final de cada frase,
envolvidas com as interrogações.
Dos verbos só saíram adjectivos.

Tentei as reticências,
mas apenas saíam pontos obtusos.

Os sonetos perderam a métrica,
transformaram-se em quadras soltas.
Rasgaram-se as estrofes acorrentadas,
entre as linhas de um poema adiado,
nas folhas rasgadas e atiradas ao vento,
que as arrojava por todo o lado.


Abro o jornal,
enquanto o ruído das janelas,
derruba as cortinas entre o lamento das ruas,
para encontrar outras palavras,

que não tenham letras tuas.


Texto: Victor Gil
Fotografia: Pedro Gil

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Tobias - O Nosso Melhor Amigo



(Um amigo é mais que um irmão.
É uma extensão do nosso abraço)

Um amigo é o braço que nos falta,
o caminho que se ergue,
entre os atalhos que a vida encerra.
É a voz dos vendavais
entre as ruínas da terra.

Um amigo é a lealdade de acreditar,
que nos vão dizer as coisas,
sem bater com os pés no chão.
Um grito preso na garganta,
que se solta sem traição.

Entre a mentira das palavras,
é um punhal de carinho,
espetado no coração.

(A todos os meus amigos e amigas)



Texto: Victor Gil
Fotografias: Pedro Gil

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Merda de Vícios



Cheiro a noite nos restos de uma taberna,
espalho os dedos na face conspiradora do balcão,
buscando entre os vultos exaustos,
o feroz cigarro que mutila a escuridão.

Penetro a superfície amarrotada,
enquanto os meus pés se diluem
nos mosaicos estendidos pelo chão,
enquanto desfaço os lábios numa cerveja gelada.

Desenho nos olhos um desvario,
um desejo obsceno na nudez da manhã.
Enquanto penteio os cabelos atados pela noite,
num grito que goteja,
sem prazer, nem amante.



Texto: Victor Gil
Fotografia: Pedro Gil

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Raios de Vida


Inquieta-me este repouso,
estes raios de vida ignorados no tempo,
este lugar que desanima sem enredo,
como um punhal espetado no vento.

Quantas vezes estas rodas se embriagaram de lama
na lenta pressa dos caminhos.
Quantos segredos guardaram
nas estranhas armadilhas que as pedras estendiam.

Sou suspeito porque tenho um coração iludido e doce,
porque procuro sempre além dos desejos.
Sou presa fácil na poeira dos carreiros,
um mendigo da memória.

Sou vendaval de cascos ferindo as ladeiras,
temporal de palavras sem história.


Texto: Victor Gil
Fotografia: Pedro Gil

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Sombras


Entre os galhos quietos,
apenas consigo lembrar-me
das sombras onde espalhámos os dias.

A gasta nora perdeu o sentido da sua rotação.
Deixou de se sentir o ruído da água a correr,
dos brados do homem,
dos clamores da terra,
dos passos do burrico ao bater os cascos pelo chão.

É como a árvore abandonada
entre as mãos do tempo,
uma lágrima solta no vento.



Texto: Victor Gil
Fotografia: Pedro Gil

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Meia Porta


Repara no assento solitário,
na meia porta,
nas silhuetas das sombras,
no terreiro onde se inventavam os dias,
que afastavam borrascas e ventanias.

Repara nas paredes brancas,
nas pedras do chão,
no banco sem beijos de amantes,
sem a loucura de uma intriga,
sem dedos enleados,

sem gestos de paixão.

Agora o tempo foge nas asas do vento.
As tábuas velhas escoam a luz,
como setas douradas varando os corações.
Aqui o chão,
é um grito de ilusões.



Texto: Victor Gil

Fotografia: Pedro Gil

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Desarrumação


Só a sombra afaga esta fogueira de tábuas magoadas.
Os restos da janela encobrem a desordem dos lençóis,
as feridas em farrapos, os baús fechados,
os embrulhos bizarros que ocultam no escuro,
os telhados e as folhas que encobrem os becos.

Os terraços já deixaram cair os bichos da incerteza.
Alheios à desarrumação decadente da indiferença,
à violação dos dias, dos sítios sem nome,
às paredes quebradas que arrastam o tempo,
onde se esconde o silêncio dos forçados à fome.

Digo bom-dia às ruas, mas só as folhas me respondem.
Só os bêbedos afastam a Lua para ver as estrelas,
entre as pedras nuas, numa cama estreita,
entre os safanões no chão descomposto,
entre as tralhas gastas, nova vida espreita.



Texto: Victor Gil

Fotografia: Pedro Gil

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Repouso


Já que não posso amanhecer-te,
deixo-te que repousar no meu colo.
Mas só se adormeceres nas tábuas isoladas,
se não falares das coisas que me tentam,
se deixares de invadir com rasgões as madrugadas.

Deixo-te repousar da mansidão da noite,
sacudir as ruas devoradas pelo sol.
Mas não pronuncies as palavras do silêncio,
não espalhes os braços que abandonei,
porque não quero derramar-me em teu regaço.

Deixa-me mergulhar dentro da manhã,
entregar-me à limpidez do dia.
Mas não libertes os troncos escondidos,
nem as raízes onde eu anseio regressar,
nem transformes o momento em ventania.



Texto: Victor Gil

Fotografia: Pedro Gil


terça-feira, 14 de abril de 2009

Para Além dos Muros


Vou mandar arrancar os portões,
passar para além dos muros,
alterar a extremidade das veredas.
Afastar os postigos das estrelas,
onde me espreitam só as tardes inquietas.

Nada mais existe senão o horizonte
a abrir-se ali mesmo adiante,
limitado entre os marcos das paredes,
entre o clamor da luz do firmamento.

Onde a mudez das pedras são lamentos,
onde as orlas dos caminhos são silêncio,
sem palavras para mandar calar o vento.



Texto: Victor Gil
Fotografia: Pedro Gil

terça-feira, 31 de março de 2009

A Espera


Um rosto perdido, a solidão da paragem,
a demora da tarde, a incerteza da vida.
Na pátria desigual, o gemido da aragem,
no olhar distante, a terra esquecida.

Os vidros listrados, as linhas direitas,
o corpo dobrado, as distâncias longínquas.
Aguardas no adro, o trilho que espreitas,
na nudez empedrada, as palavras usadas.

As botas cansadas, a gasta bengala,
arrojas espadas aos moinhos de vento.
Os olhos vigiam na tarde que embala
e a noite se acerca em remoto lamento.

Onde as sombras tristes escurecem os muros
e os velhos bancos gastos pelo tempo.



Texto: Victor Gil
Fotografia: Pedro Gil

quarta-feira, 25 de março de 2009

Transgressão



Avanço por causa do verde,
num vermelho intermitente de amarelo,
no sentido oposto em transgressão.

Ultrapasso um traço contínuo.
Estaciono em paragem proibida,
veículo abandonado fora de mão.

Deslizo nas curvas
e contracurvas do teu corpo,
constantemente a abrir.

A multa,
o reboque,
a estranha sensação que ando a transgredir.


Texto: Victor Gil

Fotografia: Pedro Gil

terça-feira, 17 de março de 2009

Linhas Cruzadas


Tenho intenção de trespassar estas linhas,
apesar de não saber que sonhos vou acordar.
Quem vai estar à espera neste trilho incerto,
que carris seguir nesta rota errante,
que atalhos vadios eu vou enfrentar.

Acontece de novo um vulto de mulher.
Mas pode ser somente alucinação,
por vezes apenas a imagem desfocada.
Embora dentro deste varado coração,
habite um guerreiro entregue à espada.

Talvez não queira soltar as minhas raízes,
movido pela confusa agitação do desejo.
Porque insisto em ficar aqui parado,
com a dor partida e o corpo amarrotado,
com a luxúria sensual que tem meu beijo.

Mas desta vez vou saltar os obstáculos
que me embargam os movimentos,
que não me deixam deslocar para outro lado.
Acho que vou atravessar estes caminhos,
vou deixar para trás o meu passado.


Texto: Victor Gil
Fotografia: Pedro Gil